Depois do episódio das flores resolvi pesquisar o assunto. Fiquei assustada. Podia estar a ser perseguida e não sabia. Pesquisei e fiquei de queixo caído quando li as estatísticas. De acordo com o site da
APAV, tudo o que se passa comigo faz parte do comportamento típico de um stalker. É assim que eles começam e achar que ignorar vai fazer tudo acabar por cair no esquecimento, é o primeiro passo para colocar a nossa segurança em risco. Bolas, eu dei por mim a olhar por cima do ombro quando saía do trabalho. Nos primeiros dias a seguir ao episódio das flores, conduzia a olhar constamente pelo vidro retrovisor para tentar perceber se estava a ser seguida. Parecia que estava a viver um filme!
Há pessoas que são perseguidas durante anos. Anos e anos a fio! 32% da população portuguesa é ou já foi vítima de stalking, 75% já recebeu mensagens exageradas de afecto. A maioria por parte de ex-companheiros mas existem muitos casos por parte de desconhecidos. Pode ser um amigo, um vizinho, um colega de trabalho, alguém com quem tenham contactado por motivos profissionais. Nem todos os stalkers são necessáriamente violentos, podem ser apenas uns grandes chatos que não nos largam, mas não vale a pena esperar para ver. Infelizmente, a polícia em Portugal nada pode fazer nestes casos. Só há intervenção das autoridades em caso de ameaça à integridade física, basicamente depois de levarem uma sova ou uma facada. É triste mas é a lei que temos.
O que me aconselharam a fazer:
- Guardar tudo o que tenha dele: sms, emails, cartões, etc. Podem vir a servir de prova caso a situação se agrave.
- Avisar as pessoas que me rodeam: amigos, família, colegas de trabalho. É mais seguro se toda a gente estiver alerta, para além de que impede que alguém lhe passe informações pessoais minhas.
- Não o enfrentar! Até pode parecer um lingrinhas a quem nós damos 10 a 0, mas nunca se sabe se terá uma arma.
- Assim que entrar no carro, trancar imediamente as portas e variar o percurso até casa e a rotina diária.
O meu caso é dos mais suaves. É apenas um grande melga, que não sabe receber um não, que está em desespero por não obter resposta e acha que me vai vencer pelo cansaço com tanta mensagem. Mas não posso ignorar. Tenho de colocar "a boca no trombone". Pela minha segurança. Por todas as pessoas (não é exclusivo das mulheres) que não sabem como dar voz à sua dor. Porque pode parecer algo muito simples, mas mexe com o nosso dia-a-dia, mexe com o nosso sistema nervoso, mexe com a nossa segurança. Eu fiquei-me pelas insónias mas mesmo sem violencia física, os efeitos físicos e emocionais na vítima são devastadores: náuseas, dores de cabeça, distúrbios de apetite, exaustão, ataques de pânico e ansiedade, e em casos mais graves depressão, perturbação de stress pós-traumático, tentativas de suícidio, entre muitos outros. Não podemos fechar os olhos e achar que só acontece aos outros, porque não acontece, porque pode estar mesmo ali ao lado.