Esta coisa de se ter o tico e o teco completamente baralhados é uma merda.
Deixamos de ser nós mesmos e passamos a ser uma pessoa que não reconhecemos. Que os outros não reconhecem. Há quem peça colo. Há quem chore baba e ranho. Há quem se faça de vítima. Perdemos amigos. Perdemo-nos a nós. Tudo fica diferente. E nada volta ao sítio. Nada volta a ser igual.
Perdi-me. Isolei-me. Fechei-me para conseguir lamber as minhas feridas. Não quis ver ninguém. Não quis estar com niguém. Não me reconhecia. Não sabia estar comigo. Não sabia estar com o mundo. Semanas e semanas a fio, meses e meses a fio, em que as noites eram passadas a chorar até adormecer, em que o álcool dava uma ajuda quando o sono teimava em chegar, em que levantar de manhã era pior que tortura e se evitava olhar ao espelho a cara inchada e deformada das noites mal passadas. Quando não fingia que trabalhava, fechava-me em casa à espera que a vida passasse. Farta de mim, farta do mundo, fazia bolos. Céus, tantos bolos que eu fiz considerando que nunca gostei de cozinhar. Mas era a única maneira de não pensar em mim. Fugi de tudo e de todos. Precisava de o fazer. Foi a maneira que encontrei de lidar comigo e com os meus sentimentos.
E como se explica tudo isto a quem está de fora? Como se diz: "Continuo a gostar muito de ti, mas agora não te consigo ver. Vais ter de esperar só um bocadinho ou muito, não te sei dizer, até um dia destes. Tem paciência comigo, já que eu não tenho". Como se explica? Como se evita que as pessoas sigam a vida delas e não se esqueçam de nós? Não se aborreçam de nós?
Há um ano atrás tudo estava muito, muito negro. Se me dissessem que hoje estaria onde estou, nunca teria acreditado. Mas muito trabalho e muita paciência do Dr. J. depois, tudo começa a voltar ao "normal". Diferente mas "normal". Porque nada volta a ser como antes. Perdemos partes de nós, encontramos outras. Perdemos pessoas. Perdemos momentos. Os valores mudam do dia para a noite. Há coisas que não se recuperam. Isso dói quase tanto como não estarmos bem.
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