"Tinha o que queria, mas foi exactamente nessa fase que o meu mundo começou a desabar. Não me sentia realizada, no lugar da felicidade que sempre julguei que o sucesso me iria trazer, encontrei apenas um vazio enorme... Faltava-me qualquer coisa, não sabia bem o quê. Sabia sim identificar uma enorme decepção com a vida. Comecei até a ganhar alguma aversão ao trabalho. Desmotivei-me e cansei-me daquilo tudo...parece que tudo quanto tinha conseguido já nada me dizia."
" Sair da cama pela manhã para ir trabalhar passou a ser um pesadelo. Tornei-me negligente e menos profissional devido à enorme desmotivação que o cargo que tanto desejava me trouxe. Não estava a ser eu mesma..."
"O ciclo é vicioso, objectivos, pressão, stress, ansiedade, falta de vida pessoal, de um companheiro, de amigos e de férias."
"Numa noite fui chamada de emergência ...eram duas da manhã. Vesti-me e pensei no que estava a fazer... Na prisão que tinha construído a minha vida."
"Havia um vazio inexplicável, a auto-estima que julgava estar em alta ao ser reconhecida pelo que fazia era ilusória e extremamente frágil. Pensava que ao ser admirada pelos outros me iria sentir realizada, conclui que tinha empregue o meu tempo, a minha vida a perseguir algo que, afinal, se traduziu numa decepção e não me trouxe nenhuma felicidade... Apercebi-me que o tempo passou sem dar quase por ele."
Revista Happy, Abril de 2011
Estes são os testemunhos de mulheres que ambicionaram carreiras e altos cargos. No topo só encontraram uma enorme decepção.
Eu fui educada para "ser alguém". Lembro-me perfeitamente da minha juventude andar sempre à volta da futura profissão que iria ter. Em época de exames, testes ou até mesmo de aulas não havia espaço para saídas com amigos, tinha que estudar. Ia às festas de aniversário e já ia com sorte. Eu tinha de estudar para ser alguém na vida. Os meus pais repetiram-me isto vezes sem conta. Nunca foi sequer colocada a hipótese de eu não seguir um curso superior. Também é verdade que tal nunca me passou pela cabeça. Nunca fui uma aluna brilhante, apenas mediana e (felizmente!) inteligente o suficiente para ter aproveitado o que de melhor os tempos universitários nos podem oferecer (e sim, foram os melhores anos da minha vida...) .
Mas desde muito cedo que a carreira era mais importante que qualquer outra coisa. Mais importante que amigos, namorados e até mesmo familia. Hoje sou aquilo a que chamam workaholic ou em bom português, viciada em trabalho. Acabada a universidade rumei à capital. Para quê ficar na santa terrinha com um emprego mediano, se podia ter um lugar de topo? E se necessário do outro lado do mundo, onde supostamente tudo acontece? Deixei tudo para trás, incluindo uma das pessoas mais importantes para mim (hoje vejo isso...). E trabalhei. Trabalhei muito. Trabalhei que nem uma louca. Muitas horas extra, fins-de-semana, feriados. Férias nem vê-las. Duas semanas no verão e porque os pais lá reclamavam da falta de visitas. Não precisava delas. O meu estado de humor variava consoante o trabalho corria bem ou mal. Era lá que eu me sentia bem. Toda a gente me elogiava pela capacidade de trabalho, pela dedicação e acima de tudo pelo bom trabalho que fazia. Todos me queriam na sua equipa. E eu adorava.
Queria entrar no mundo multinacional das farmacêuticas. O mundo onde tudo acontece, onde se movem milhoes e onde as grandes carreiras se constroem. Abriu a primeira biofarmacêutica do país...."existe uma vaga, se quiseres é tua...". Larguei a bolsa e fiquei a contrato (nada de fantástico, há que começar por baixo). Ouro sobre azul! 80% das pessoas da minha área dariam o dedo mindinho para terem uma posição como a minha. "Uau!! Mas isso é fantástico! Deves de estar a adorar!", "Ehlá! Não arranjas um lugarzinho para mim?", "Bem que sorte!".
Sinto-me realizada?... Não. Mas porquê? Afinal consegui aquilo que queria, não é um lugar de topo mas é o começo para lá chegar. Então, mas afinal que quero eu? ... Não sei. Só sei que consegui aquilo que queria, toda a gente me cobiça e eu só consigo sentir um grande vazio. Uma grande decepção. Infelicidade. Frustação. Olho para trás e nada do que fiz me parece importante.
Li o artigo que referi acima e senti cada palavra que foi escrita, como se alguém me tivesse lido a mente e o coração. Tal como o artigo diz: "Nem sempre o atingir de um objectivo traz felicidade, por vezes, o topo pode não passar de um lugar cheio de nada. O topo é apenas o topo e só vale a pena se o trajecto para lá chegar for compensador"