O que é um Stalker - parte II

11 junho 2014
Depois do episódio das flores resolvi pesquisar o assunto. Fiquei assustada. Podia estar a ser perseguida e não sabia. Pesquisei e fiquei de queixo caído quando li as estatísticas. De acordo com o site da APAV, tudo o que se passa comigo faz parte do comportamento típico de um stalker. É assim que eles começam e achar que ignorar vai fazer tudo acabar por cair no esquecimento, é o primeiro passo para colocar a nossa segurança em risco. Bolas, eu dei por mim a olhar por cima do ombro quando saía do trabalho. Nos primeiros dias a seguir ao episódio das flores, conduzia a olhar constamente pelo vidro retrovisor para tentar perceber se estava a ser seguida. Parecia que estava a viver um filme!
Há pessoas que são perseguidas durante anos. Anos e anos a fio! 32% da população portuguesa é ou já foi vítima de stalking, 75% já recebeu mensagens exageradas de afecto. A maioria por parte de ex-companheiros mas existem muitos casos por parte de desconhecidos. Pode ser um amigo, um vizinho, um colega de trabalho, alguém com quem tenham contactado por motivos profissionais. Nem todos os stalkers são necessáriamente violentos, podem ser apenas uns grandes chatos que não nos largam, mas não vale a pena esperar para ver. Infelizmente, a polícia em Portugal nada pode fazer nestes casos. Só há intervenção das autoridades em caso de ameaça à integridade física, basicamente depois de levarem uma sova ou uma facada. É triste mas é a lei que temos. 
O que me aconselharam a fazer: 
      - Guardar tudo o que tenha dele: sms, emails, cartões, etc. Podem vir a servir de prova caso a situação se agrave.
      - Avisar as pessoas que me rodeam: amigos, família, colegas de trabalho. É mais seguro se toda a gente estiver alerta, para além de que impede que alguém lhe passe informações pessoais minhas.
      - Não o enfrentar! Até pode parecer um lingrinhas a quem nós damos 10 a 0, mas nunca se sabe se terá uma arma.
      - Assim que entrar no carro, trancar imediamente as portas e variar o percurso até casa e a rotina diária.

O meu caso é dos mais suaves. É apenas um grande melga, que não sabe receber um não, que está em desespero por não obter resposta e acha que me vai vencer pelo cansaço com tanta mensagem. Mas não posso ignorar. Tenho de colocar "a boca no trombone". Pela minha segurança. Por todas as pessoas (não é exclusivo das mulheres) que não sabem como dar voz à sua dor. Porque pode parecer algo muito simples, mas mexe com o nosso dia-a-dia, mexe com o nosso sistema nervoso, mexe com a nossa segurança. Eu fiquei-me pelas insónias mas mesmo sem violencia física, os efeitos físicos e emocionais na vítima são devastadores: náuseas, dores de cabeça, distúrbios de apetite, exaustão, ataques de pânico e ansiedade, e em casos mais graves depressão, perturbação de stress pós-traumático, tentativas de suícidio, entre muitos outros. Não podemos fechar os olhos e achar que só acontece aos outros, porque não acontece, porque pode estar mesmo ali ao lado.

2 comentários:

  1. Anónimo disse...:

    São casos delicados. Se tu lhe desses atenção e estivesses interessada, deixaria de ser um "stalker" e passava a ser um amigo. A partir do momento em começamos a ignorar e ele continua a insistir já passa a ser considerado stalker pela sociedade. É uma linha muito ténue.

    É complicado lidar com o facto de ser ignorado, pode acontecer a qualquer um de nós e é duro, muito duro. Há pessoas que esquecem depressa, mas há outras que por diversas razões têm mais dificuldade em esquecer.

    Um stalker não é necessariamente uma pessoa perigosa, pode até ser exatamente o contrário, ser uma pessoa interiormente muito bonita e bem intencionada, e neste caso quem está em perigo é o próprio stalker, não é a "vitima" em si.

  1. Squaw disse...:

    Olá,
    É verdade tudo aquilo que dizes. Chamar stalker a esta pessoa é, muito provavelmente, exagerado. Para mim sempre foi alguém muito carente, com falta de atenção por parte das mulheres e que não sabe lidar com a frustração. Apenas isso. Não serei a primeira nem a última pessoa a ter de lidar com uma situação destas. Foram as pessoas à minha volta que me alertaram para o facto de que poderia ser um stalker. E nestas situações, é como diz o ditado, mais vale prevenir.
    Mas concordo quando dizes que a linha é muito ténue. Que se eu estivesse interessada, já seria uma amigo ou algo mais. Tens toda a razão. Não é isso que os namorados fazem? "Perseguirem-se" um ao outro?
    Sei que é muito duro ser-se ignorado. Ora bolas, também já me aconteceu. Sei o que isso é. Acho que já aconteceu a toda a gente, mas não foi isso que me levou a ultrapassar certos limites. Quando alguém de quem gosto me diz que não me quer ver, não quer falar comigo, que me despreza, eu sofro. Choro, faço os meus dramas, acho que a "vida vai acabar" mas não insisto. Não me humilho. Não recebo uma ameaça de polícia e respondo a pedir para ver a coisa de maneira construtiva. Há limites para tudo.
    Acho que mesmo não sendo um "stalker" propriamente dito, esta pessoa precisa de ajuda. Não por ser perigosa ou doente psicologicamente, mas para poder lidar melhor consigo mesmo e com os seus sentimentos.
    Acredito que ele vá ultrapassar esta situação e tudo regresse ao normal, no entanto é muito claro que a próxima mulher que se cruzar no caminho dele, se não corresponder aos seus sentimentos vai passar pelo mesmo. É alguém que vai sofrer muito na vida se continua a agir desta maneira.
    Estas situações são todas muito complicadas, não são fáceis de definir, nem de gerir. Quer para quem é ignorado, quer para quem é a "vítima". Ele pode ser muito boa pessoa, ter as melhores intenções do mundo, mas eu não sei isso. Quem me garante que um dia ele não se passa da moleirinha e não me faz uma espera? Quantos casos não aparecem na TV de mulheres assassinadas por homens (normalmente "ex") e que toda a gente diz que o assassino "era tão boa pessoa".
    Estou convicta de que não é a minha situação, que nada disso vai acontecer, mas a realidade é que não consigo ter 100% certeza.

    Eu percebo tudo aquilo que me dizes, e não deixo de concordar. Mas no meio disto tudo optei por dar prioridade à minha segurança.